terça-feira, 24 de maio de 2011

Manhazita fria de maio...

Hoje amanhecemos um pouco mais perto do inverno. Fogo na lareira desde cedo, mate, casa aconchegante, nada além do que se pode querer nessa vida. Ainda pela manhã me perguntei "por que que eu deveria sair daqui?"... tenho tudo e mais um pouco, casa boa, família, trabalho, etc... esses tempos mesmo, me perguntaram porque eu não voltava a Porto Alegre, para viver de uma bolsa de mestrado e poder tocar esse pós-graduação mais tranquilamente. Naquele momento só enrolei, não consegui formular uma resposta cabível. Mas a verdade é que eu não quero sair daqui, há muito mais coisas envolvidas do que simplesmente 1200 reais de uma bolsa de mestrado. Eu vejo aqui nessa região um potencial enorme de crescimento, se explorada da forma correta. E para mim será um desafio enorme descobrir tal maneira... vejo minha carreira aqui com um papel muito mais importante do que o de produzir grandes projetos científicos que somente beneficiam uma minoria mundial.
Além disso, acredito que se permanecer aqui crescerei como pessoa... não simplesmente vendo o lado profissional. Tenho lidado com gente extremamente humilde (em seu modo de ser, não devido a condição socio-econômica) e estou tentando enxergar nisso uma oportunidade de me tornar uma pessoa melhor.
Agora convém publicar uma poesia de Atahualpa Yupanqui que ilustra perfeitamente o modo de viver campesino, daqueles gaúchos que ficam esquecidos no tempo e espaço mas que são a essência de seu próprio chão, inclusive parecem a continuidade do barro, do rastro, das sangas...
"Milonga del peón de campo":

Yo nunca tuve tropilla,
siempre en montao en ajeno.
Tuve un zaino que, de bueno,
ni pisaba la gramilla.
Vivo una vida sencilla,
como es la del pobre pión:
madrugón tras madrugón,
con lluvia, escarcha o pampero,
a veces, me duelen fiero,
los hígados y el riñón.
Soy peón de La Estancia Vieja,
Partido de Magdalena,
y aunque no valga la pena,
anoten, que no son quejas:
un portón lleno de rejas,
y allá, en el fondo, un chalé.
Lo recibirá un valet,
que anda siempre disfrazao,
más no se asuste, cuñao,
y por mí pregúntele.
Ni se le ocurra decir
que viene pa´ visitarme:
diga que viene a cobrarme,
y lo han de dejar pasar.
Allá le van a indicar,
que siga los ucalitos.
Al final, está un ranchito,
que han levantao estas manos.
Esa es su casa, paisano,
¡ ahí puede pegar el grito ¡.
Allá le voy a mostrar,
mi mancarrón, mis dos perros,
unas espuelas de fierro,
y un montón de cosas más.
Si es entendido, verá:
un poncho de fina trama,
y el retrato de mi Mama,
que es ande rezo pensando,
mientras lo voy adornando,
con florcitas de retama.
¿ Qué puede ofertarle un pión,
que no sean sus pobrezas...?.
A veces me entra tristeza,
y otras veces, rebelión.
En más de alguna ocasión,
quisiera hacerme perdiz,
para ver de ser feliz,
en algún pago lejano.
Pero a la verdad, paisano,
¡ me gusta el aire de aquí... ¡.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Mi perro Cimarrón...

Essa figura é uma grata surpresa que Pinheiro Machado me reservou... ganhei ele já com 9 meses de idade, um animal que carrega uma humildade inigualável com a qual estou tentando aprender um pouco mais, ser mais cão e menos gente. Acredito que o sentimento relativo ao nosso grande amigo se resume na singela e sincera poesia de Horacio Guarany, a qual publico agora no Domingo de Água:

Milonga para mi perro

"Si el hombre se vuelve malo
al hombre lo llaman perro...
Si el hombre se vuelve malo
al hombre lo llaman perro...
El perro es un río largo de amistad y de recuerdos.
Si el hombre se vuelve malo al hombre lo llaman perro...
Cuando un lazo de tristeza
me viene envolviendo el alma,
cuando un lazo de tristeza
me viene envolviendo el alma,
mi perro se la hace suya y enseguida me acompaña.

Si el hombre se vuelve malo al hombre lo llaman perro...
A veces una esperanza
alegra la vida mia,
a veces una esperanza
alegra la vida mía,
y en el cencerro 'e su cola malambea la alegria.
Si el hombre se vuelve malo al hombre lo llaman perro...
Si tiene frío en la noche
tirita sin decir nada,
Si tiene frío en la noche
Tirita sin decir nada,
y si el hambre lo persigue hace del hambre una almohada
para acostarse sobre ella aguardando madrugadas,
y se duerme entre hambre y frío solito y sin decir nada.

Si el hombre se vuelve malo al hombre lo llaman perro...
¡Qué ofensa para mi perro compararlo a gente mala!
Si el hombre se vuelve malo al hombre lo llaman perro..."

Gracias Tango por tu amistad y fidelidad canina.

Reinauguração do Blog...


Faz muito tempo que quero retornar a publicar no "Domingo de Água", mas não havia inspiração, e o tempo é curto, mas devido ao fato de isto me fazer bem, resolvi que vou tirar um tempo para minhas reflexões.
Como já havia falado, o nome do blog advém de uma poesia de Osiris Rodríguez Castillo, e retrata aquelas coisas que somente se faz em dias de chuva, com bastante tempo mas sem possibilidade de encontrar outra atividade.
E agora, eu como Cacimbinhense por opção, tentarei dedicar alguns minutos do meu dia para postar algo que tenha algum valor a nível de cultura, algo assim. Meu intuito não é a promoção própria, tentando convencê-los sobre a correta maneira de pensar... mas sim de expor aquilo que penso e admiro, doa a quem doer.

Segue abaixo um texto de minha autoria que foi publicado no eigatimaula, blog da minha querida Cacimbinhas.

O gaúcho se perdeu...

Eu nasci em um centro plenamente urbano, e lá vivi por pelo menos 25 anos, entre idas e vindas entre Novo Hamburgo e Porto Alegre, rotina que hoje percebo o quão cansativa que era. “Me criei” vindo a Pinheiro Machado passar as férias, local onde adquiri o fascínio pelos assuntos do campo, observando meus tios e amigos religiosamente trabalharem na terra para dela tirar nem sempre o sustento (como muitos o fazem no município, e eu já não digo mais a maioria, porque não é mais uma verdade), mas a complementação de suas rendas. Religiosamente porque sempre interpretei tal fato como uma “re-ligação” constante a terra... Muito mais importante que catolicismos ou qualquer outro rito cristão. Considero mais importante porque essas pessoas, ao trabalharem na terra, lutavam contra intempéries e falta de recurso não somente pela melhoria financeira, mas também pelo prazer de assistir (no amplo sentido da palavra) os ciclos naturais que ocorriam todos os dias, a vida inteira a frente de suas retinas. E esta constatação me ajudou a aprender com as pessoas do campo e respeitá-los, característica muito importante para o exercício de minha profissão não somente aqui no município, mas em todos os locais por onde já andei.

O momento do ano que eu mais esperava nessa época era justamente a semana farroupilha.
Talvez meu parco português se deva as semanas e semanas de aula que matei para poder vir a
Pinheiro durante essas festividades. Inclusive durante a faculdade arranjei briga com um orientador de estágio por este motivo! Mas, bueno, sem luta, sem glória. E quando digo isso não me refiro à comemoração de uma guerra que todos nós estamos cansados de saber que culminou em um acordo político nada interessante ao Rio Grande do Sul e, portanto, nem deveria ser comemorada. Mas eu, dentro da minha cabeça de criança curiosa, aprendi que durante aquela semana de muita festa e respeito a rituais terrunhos não era simplesmente uma referência a possível bravura farrapa (do lado camponês, negro e humilde, porque a aristocracia rural da época somente demonstrou covardia), mas ali desfilava a própria história dessa terra, idealizada pelos seus filhos sempre tão fiéis a ela. Naquele momento ocorria uma demonstração daquilo que os pinheirenses sempre viveram... Não era um desfile simplesmente mostrando trajes e artefatos supostamente originários da guerra, mas também desfilavam os valores de uma gente que era gaúcha simplesmente por serem gaúchos, tava no gesto, não em aperos, nem em lenços. E essa imagem é o que procuro conservar sempre na minha memória, e não quero perdê-la tão facilmente.

Hoje voltei a Pinheiro Machado na condição de membro dessa comunidade, e tento participar
da maneira que posso, através do meu trabalho principalmente. Nem sempre consigo, mas isso é comum para quem começa. Mas o que me intrigou foi o fato de esses valores que sempre considerei únicos no povo de Pinheiro parecer estar definhando, a religião anteriormente dita ficando com um templo tapera. Acredite, meu intuito é de fazer uma crítica construtiva. Durante pelo menos sete anos andei por esse sul "véio" de ponta a ponta, e o que eu mais enxerguei foi um povo querendo ter essa ligação com a terra que eu via a tempos idos. E digo aos técnicos da minha área que a preservação de um modo de vida humilde em sua essência não precisa interferir na produtividade da terra, aliás, de forma alguma isso precisa ocorrer. Mas eu acho tão importante quanto produzir em maior escala (aumento da produtividade da terra e da mão-de-obra que nela trabalha) é a preservação da identidade das pessoas que aqui vivem. Pinheiro Machado sempre teve tantos Vandercis, Castelhanos, Quirelas, Becas, Lorivals, Dantes (vou dar uma puxada pro meu assado!) com seus defeitos, mas principalmente uma grande qualidade: foram e alguns ainda são gaúchos no cerne. Eu não disse que eram domadores, laçadores, pealadores, tropeiros, carreteiros, justamente porque muitos nunca foram isso. Mas eram gaúchos porque essa expressão contempla não somente essas outras ocupações (que os alemães justamente por se orgulharem de suas profissões tornaram-nas seus sobrenomes, independentemente de serem garis ou engenheiros, por acreditarem que todos eram a mesma coisa e tinham o mesmo valor perante a sociedade). Ser gaúcho é ser vanguardista, é não ter medo da mudança que quer provocar e lutar por ela, ainda conservando a humildade de quem tem um legado de sabedoria a qual não precisa ficar estampando exaustivamente como muitos pseudo-gaúchos o fazem. E para isso o nosso passado não precisa ser esquecido, aliás, é justamente o contrário que deve acontecer.

Certa vez fiz um estágio no Uruguai, não na fronteira com o Rio Grande do Sul, mas em Montevidéu, onde se presume que, a exemplo de nosso Porto nem sempre tão Alegre, a cultura não é algo muito forte. E encontrei justamente o contrário. Por exemplo, lá a cultura das corridas de cavalo é um “fatalismo telúrico” (parafraseando Guido Machado Moraes), e mesmo com o advento de conceitos técnicos tais como o do antidoping dos cavalos (que lá é muito mais exigente que aqui, uma vez que nem diuréticos são aceitos em Maroñas), as corridas não acabaram, aliás, nem se pensou na redução do esporte. Muito pelo contrário, o que eu presenciei foram casas humildes (inclusive muito parecidas com as nossas daqui) que abrigavam em seus pátios cavalos de corrida que eram tratados quase como membros da família, muitas vezes. Portanto, o avanço técnico não suprimiu a tradição de se ter cavalos naquele lugar.

E é isso que eu gostaria de dizer, não se pode perder aquilo que teve origem neste lugar. O cidadão pinheirense deveria lutar pela manutenção de sua história, seja através de uma tertúlia ou qualquer outro evento típico do município, e não exaltando um grupo como o Bonde do Forró que é cultura alheia, pessoal... podemos aceitá-la, festejá-la, mas o que ocorre é que nas ruas de Pinheiro não se ouve mais as características palavras do Aparício, Eron, da Norma, do Noel... Temo que ocorra o que já acontece em outras cidades do Rio Grande do Sul, onde comercializam um gaúcho sazonal que somente aparece na semana farroupilha ostentando um tradicionalismo pífio que não é nem uma migalha da originalidade que já vi em Pinheiro, quando guri.